terça-feira, 19 de maio de 2015

Prazer, Alice!

       “Poderia escrever sobre tantas coisas, mas é uma corrida contra o tempo e são tantos os pormenores envolvidos. É a música que acaba, o farol que abre, um ‘oi’, uma memória musical, um ‘a gente vai se falando’, uma saudade, é uma vida inteira acontecendo em fragmentos de cotidiano.”. Alice S.
         Eu sempre gostei muito de escrever, para mim isso tão natural quanto escovar os dentes. O ritual de pegar o caderno, colocar uma música e despejar meus pensamentos no papel, começou aos 13 anos. Desde então, foram muitos cadernos, agendas e guardanapos de boteco. Escrevia sempre e em qualquer lugar, as palavras simplesmente fluíam e isso me bastava, pois, escrever sempre aliviou minha alma. Mesmo gostando de escrever relutei para fazer jornalismo, apesar do incentivo do meu pai, eu achava que ia ser um porre escrever sobre assuntos que seria “obrigada” para pagar as minhas contas. Acabei fazendo e a faculdade foi muito bacana. Apesar de todos os percalços, fui muito bem no curso e nunca peguei nem um exame. Depois já fiz uma pós-graduação e, por muito tempo, só escrevi sobre temas que pagavam o meu salário.
“Pensando na minha relação com o tempo resolvi reler coisas antigas, foi quando entendi Leminski ‘abrindo um antigo caderno foi que eu descobri antigamente eu era eterno’. Eu era boa nessa coisa de despejar meus pensamentos no papel. Era natural, intrínseco e voraz. Minha alma ali, despida pela caneta, descrita por palavras que pudessem esmiuçar meus sentimentos. Hoje, mais interessante e centrada, aprendi a ser mais direta, menos poeta, perdendo o brilho para o tom da objetividade (inexistente) que exige a profissão. A beleza da autenticidade deu espaço aos moldes da pirâmide, o lead enquadrou a espontaneidade e, agora, rompo com essas formalidades para assinar meus dizeres apenas como EU”. Escrevi esse texto em novembro de 2013, depois de anos sem escrever algo que viesse das minhas entranhas poéticas. Depois desse texto eu passei por mais um tempo sem escrever nada que fizesse sentido para a minha alma, até dia 11 de janeiro de 2014, quando fui apresentada para Alice.
Era uma linda noite de verão. Eu sai para dançar e uma amiga me apresentou para o Edgar, poeta a quem serei eternamente grata! Ela contou para ele que eu também escrevia e começamos a falar sobre isso. Contei que fiquei um bom tempo sem escrever, pois minha veia poética tinha secado com a rotina de jornalista. Quem nasceu para poesia não gosta da vida em tons de cinza, precisa de uma paleta para colorir a vida, mas minha inspiração para pintar a vida estava dormente em algum lugar aqui dentro. Então ele me deu a ideia genial de assinar meus textos com outro nome:
- Qual o primeiro nome que vem na sua cabeça?
- Alice!
- Prazer, Alice.
            Nessa mesma noite eu já tive vontade de escrever. Edgar me emprestou o celular dele, onde escrevi uma nota que ele me enviou depois:
“Sobre a batida da música...
Putz, ela invade de um jeito que é difícil quantificar. É o ápice da liberdade ali, pura e simplesmente em sua essência, tocando na alma.
Alice”.
Depois disso eu reencontrei o meu lado poeta, o lado colorido, e voltei a escrever como aquela adolescente que só precisava de um pedacinho de papel em branco para se sentir livre e plena ao colocar seus pensamentos e sentimentos ali. Nesse tempo, como Alice, muitas pessoas me mandaram mensagens na página do blog querendo saber quem eu realmente era, me faziam perguntas sobre os textos e diziam que se identificavam com o que eu escrevia.
Por um bom tempo eu quis manter Alice intocada em seu mundo tão cheio de vida. Renata escrevia sobre os assuntos práticos que pagam as contas e Alice sobre o melhor lado da vida. Alice é pura poesia, ela vê emoção em tudo, ela vê o infinito sem piscar, ela se joga na vida e escreve sobre tudo o que faz seus olhos brilharem. Resumindo: Renata é o lado racional e Alice o sensível. Convivemos, nós duas, muito bem assim durante um bom tempo, mas depois que eu vim morar sozinha, e me encontrei como ser único no universo, passei a ver esse lado de poeta peregrina com mais carinho, tanto que Alice escreve nas paredes de casa. Quando eu comprovei que uma das nossas forças é reconhecer nossa sensibilidade, eu passei a entender e aceitar meu lado Alice.



                             Alice, Renata, Renata, Alice...

Teve um momento específico que li Renata e Alice. Durante o Lollapalooza deste ano eu escrevi um texto tão profundo e verdadeiro, tão fiel às duas, que percebi que, finalmente, a jornalista e a poeta peregrina se unificaram em uma única escritora. Então resolvi assumir Alice de uma vez. Algumas pessoas perguntaram se eu estava acabando com a Alice, se eu ia parar de escrever poesias. Meeeeu, NÃO! Não estou rompendo com ela. Pelo contrário, estou acolhendo e assumindo Alice em sua totalidade, ou seja, meu lado poeta. Agora os textos de Alice serão publicados aqui, nesse blog, na coluna “o surpreendente sabor do inusitado”, frase muito pronunciada pela Alice que certa vez escreveu: ah, o delicioso sabor do inusitado! Aquele gostinho de quero mais que surge como fogos de artifício nas papilas gustativas...
Então é isso :) 
Até o próximo post de Alice ou Renata
Abraços

Alice S. e Renata Forné Bernardino